apresentação

Neste 2019, nos dias 27, 28 e 29 de novembro, o Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Ceará, realiza o seu XVI Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários, com o tema Literatura Comparada: os desafios da interdisciplinaridade. 

O evento busca interpelar, assim, aspectos como a pesquisa, a teoria, a crítica literárias, e as próprias relações epistemológicas que cruzam a literatura, disputando-se ou se afinando por sobre o seu dorso como campo de força e de batalha. 

 

Essa proposta de reflexão parte da ideia de que a própria literatura comparada – aqui, como área e como método – alberga fundamentalmente em si uma noção de transversalidade. Nesse sentido, seguindo os apontamentos de Eduardo Coutinho (2013)¹, busca-se fomentar a discussão acerca da produção do conhecimento para a literatura na contemporaneidade, conhecimento que se afirma, hoje tanto mais, como algo instável. A reboque, isto coloca também o espaço da literatura como caminho sulcado e acidentado, em que as trocas, transferências, geminações acirram as suas práticas criativas, teóricas e metodológicas, fazendo a noção de texto literário entrincheirar-se em meio a “escritas diaspóricas” – estas, por sua vez, palavras de Josefina Ludmer (2010)², para definir uma ideia de "literaturas pós-autônomas" em nosso tempo. 

 

De acordo com o que aponta Ludmer (2010), essas escrituras, no tempo presente, atravessam as fronteiras da própria literatura – ou dos parâmetros que costumavam defini-la –, revogam seus limites, nublam o limiar entre o "dentro" e o "fora", colocam então a própria matéria literária e a sua forma em constante êxodo, esvaziando critérios, categorias, reformulando as noções de sentido, de texto, de estilo, de obra, de autor, de verdade, de ficção e de saber. 

 

Na indecidibilidade e na ambivalência, assim, da condição literária, aspectos que se agudizam no contexto contemporâneo de nossa trincheira, o XVI Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários acolherá trabalhos, sem fixar áreas específicas, em que a literatura se configure como um ponto de partida, um ponto de chegada, ou mesmo como um caminho em vórtice, na intenção de promover um encontro em que se reflita, de maneira plural, sobre os atravessamentos literários em relação a artes plásticas, cinema, tradução, relações intersemióticas, fotografia, música, ficção científica, escrita criativa, fanfiction, street art, performance, videoarte, noções de gênero literário, literatura e cultura clássicas, teatro, filosofia, biografia, testemunho, reportagem jornalística, diário íntimo, escrita epistolar, arte etnográfica, antropologia, arte sacra, narratologia, desconstrução, estética da recepção, estudos pós-coloniais, multiculturalismo, hibridização, identidades queer, estudos de gênero, literatura negra, produção e mercado editoriais, quadrinhos, redes sociais, TICs, letramento digital, análise do discurso, ensino de literatura, ciências botânicas, ciências médicas, ecocrítica, animal studies, zoocoleções, literatura de viagem, história, história da arte, memória e pós-memória, oralidade, autoficção, exílio, manifestações populares, pesquisa museológica, crônica esportiva, política e ideologia, infância, erotismo, psicanálise, trauma, censura, regimes ditatoriais – enfim, trabalhos que abordem os espaços possíveis em que a literatura se move, bem como tudo aquilo que ela fagocita, abraça, ecoa, silencia, fere e sonha.

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¹ COUTINHO, Eduardo. Literatura comparada. Reflexões. São Paulo: Annablume, 2013.

 

² LUDMER, Josefina. Literaturas pós-autônomas. Disponível em: <http://culturaebarbarie.org/sopro/n20.pdf>.